BRASÍLIA - O gabinete do senador Cícero Lucena (PSDB-PB), primeiro-secretário do Senado, emprega desde junho do ano passado uma funcionária que não aparece para trabalhar praticamente desde que foi nomeada. A assessoria do senador confirmou que ela não vai ao trabalho, e informou que abrirá um processo interno para a demissão da servidora.
Na edição desta quarta-feira, O GLOBO revelou que o senador Gim Argello (PTB-DF) emprega em seu gabinete seu próprio contador, que é sócio da Capcon Contabilidade. Em 2009, o Senado viveu uma crise política depois que foi revelado que diversos senadores empregavam parentes e funcionários fantasmas.
Funcionária tem salário mensal de R$ 2 mil
Lucena nomeou Jacquelyne de Lucena Aguiar, empresária e sócia de uma rádio em Guarabira, no interior da Paraíba, em 22 de junho do ano passado. Ela ocupa um cargo comissionado de assistente parlamentar, com salário de R$ 2.042 mensais.
A nomeação da empresária foi quase um presente de casamento. Ela se casou no dia 25 do mesmo mês com o espanhol Isaac Perez. A cerimônia foi um acontecimento relevante na vida social da cidade. Vários políticos foram prestigiar o casal, incluindo o próprio senador e a mulher dele, Lauremília, que foi vice-governadora da Paraíba e ex-prefeita de Guarabira, o ex-governador Roberto Paulino e deputados. Jacquelyne é filha do empresário João Rafael de Aguiar, que tem empreendimentos na região de Guarabira e é o segundo suplente de Cícero Lucena no Senado.
Em 21 de junho de 2009, a empresária fez questão de dar uma notícia com exclusividade à Rádio Rural de Guarabira, da família: ela pretendia se candidatar a deputada estadual nas eleições de 2010. O programa destacou que, na ocasião, Jacquelyne vivia há mais de um ano na Espanha. A candidatura não vingou. No ano passado, foi a vez do pai dela, João Rafael, tentar alçar voo próprio. Planejava concorrer à prefeitura de Guarabira este ano, mas, de acordo com os sites de notícias da região, foi abatido por artilharia amiga antes mesmo de começar a bater asas. João Rafael desligou-se do PSDB e se filiou ao PMDB. Mas a candidatura não prosperou.
Um site de notícias da cidade destacou que “após receber carta de filha, João Rafael poderá desistir de possível candidatura em Guarabira”. A notícia dava conta que, da Espanha, Jacquelyne mandara uma carta ao pai rogando-lhe para que não concorresse. A notícia é do dia 5 de dezembro do ano passado.
Nesta quarta-feira, O GLOBO procurou por Jacquelyne no gabinete do senador e também na primeira secretaria. Ninguém a conhecia. A assessoria de imprensa do senador confirmou que a empresária foi nomeada no gabinete dele e que ela não tem comparecido ao trabalho. A assessoria também destacou que, apesar do sobrenome Lucena, ela não é parente do senador. Ainda de acordo com a assessoria, o ponto da servidora não foi abonado pela chefia e, portanto, ela não estaria recebendo salário.
Ao ser perguntada por que o senador mantinha uma funcionária que não trabalha, a assessoria disse que será aberto um procedimento para demiti-la